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  • Milena Velloso

Eu e Nação Zumbi na cozinha, pro dia nascer feliz


Desde que nos mudamos, precisamos fazer tudo nós mesmos , e entre outras coisas tenho experimentado cozinhar diariamente, e vou testando novos ingredientes e receitas. Sempre fui meio natureba, e quando Luan nasceu comecei a ler os livros de Sonia Hirsch, que são uma delícia e aí fui pegando gosto pela coisa e comecei a estudar mais sobre o assunto. Na época – quatorze anos atrás – era muito difícil, pois não tínhamos 200 programas de tv, nem a Bela Gil e muito menos o Google para nos ajudar com as receitas e ingredientes mais exóticos. Se eu fosse tucana chamaria de PLUMC, como não sou , chamo de Plantas Menos Conhecidas mesmo e pronto.

Como gosto muito de tomar uma cervejinha, tenho restringido essa ritual apenas para os finais de semana pra não pegar mais gosto ainda e chutar de vez o pau da barraca, literalmente (pois já passou da hora de desmontar a dita cuja aqui do lado da casa, atualmente funcionando como depósito dos móveis à espera da construção de dois quartos). O melhor dia é sábado porque me permito seguir rígidamente a receita profetizada por uma das minhas bandas favoritas: Nação Zumbi e caso pudesse eu, reinar absoluta para além do meu castelo, determinaria como lei para todos: “Uma cerveja antes do almoço é muito bom, pra ficar pensando melhor”, todos os dias... Muito melhor então seriam duas, mas aí já seria perigoso, pois sou daquelas que quando bebe quer subir na mesa.. e morando num mezanino com 3 crianças, não seria aconselhável. Aqui, pelo menos aos sábados, domingos, tarde e noites..as atividiades precisam ter o L verdinho (livre) da classificação indicativa .

Coisa gostosa tem sido mexer com ingredientes novos, descobrir temperos e farinhas nunca usadas e melhor ainda é preparar tudo durante as manhãs, enquanto vai dourando, vou beliscando, e sonhando que o sábado chegue logo. No cardápio de hoje tivemos uma noite mexicana. Adoro fajitas, burritos, jalapenos, salsa, creme azedo, guacamole.. Gosto de tudo, coisa de quem tem o temperamento colérico e não economiza no yang. Para substituir aquelas tortillas horríveis de milho compradas prontas com aquele T amarelinho na embalagem - que dá medo de pensar o que vai causar na nossa velhice, resolvi fazer umas tortilhas com o resto do arroz integral do almoço, bem torradinhas e crocantes. Os biscoitos ficaram incríveis, salpiquei com gergelim e linhaça preta, preparei uma salsa picante, e no lugar da carne móida, subsitui por um frango apimentado desfiado. Só não foi melhor porque estou gripada e não pude rezar na cartilha da Nação Zumbi como de fato faço nesses momentos.

Preparei o molho azedo e detalhe: o iogurte foi caseiro mesmo, Lelo está se especializando nisso: cremoso, bem azedinho como deve ser, feito do leite de vaca tirado na horinha e entregue na porta de casa pela Dona Alda, uma senhora linda que vive rindo, cheia de graça e muito batalhadora . Nunca demos iogurte Nestlé pros nossos filhos , aliás de nenhum tipo, danoninhos ou aquelas coisas coloridas e cheias de corantes. Os meninos sempre tomaram iogurte integral, branco e sem açucar. Marina toma puro mesmo, sem adoçar e adora; Lu e Nana tomam com melaço pois nas horas vagas , além de pessoinhas maravilhosas, são formigas.

Não costumo me exibir muito como mãe, mas tenho orgulho de algumas coisas muito bobas, mas que olhando pra trás um pouquinho hoje vejo que fizeram e fazem toda diferença na saúde e bem estar deles. No que diz respeito a hábitos de consumo em geral, sou a encarnação da Margareth Tatcher ou Dilma em tempos de crise com a classe trabalhadora. Nunca coloquei, uma única vez sequer em um carrinho de mercado biscoito recheado, cheetos de nenhum tipo, produtos da Nestlé, mingaus, mucilons, ou qualquer coisa que fosse rosa, amarela, verde ... e brilhasse . Nosso carrinho não era muito diferente lá do que é aqui, a única coisa que mudou mesmo é que aqui se compra o que se pode carregar na mão. O que torna o hábito de comer ainda mais rico pois acabamos comendo alimentos mais frescos todos os dias.

Voltando a dieta natureba da família, com a terceira filhota adotamos o terrível e abomiável biscoitode maizena , por insistência da pequena que ama e foi introduizida a esse nobre alimento por Irá, sua fiel escudeira e cuidadora desde bebê que trazia escondido na bolsa. Sempre soube e achei uma graça esse segredo que as duas compartilhavam e por muito tempo fingi desconhecer por completo esse gesto transgressor das duas de tão gracioso que era. Agora temos diminuído bastante o consumo, pelo mesmo T amarelinho das tortilhas lá de cima e também porque com o frio, bebemos menos água e assim que as farináceias todas viram uma fonte de muco terrível.

O fato é que cozinhar é mesmo um ato de amor como costumam dizer por aí. Eu nunca havia entendido muito bem, mas é que é preciso fazer para entender, quanto mais familiaridade com os temperos você cria, uma certa intuição a respeito do que deve ser usado ou evitado se apresenta,e imagino que isso fica cada vez mais forte com o tempo e a experiência , do lado de cá por enquanto é só uma brincadeira gostosa. Um mundo sem Tezinhos amarelos cria espaço para muitas possibilidades, mas sem o Tesão para experimentar coisas novas, aí nao há mesmo solução.


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