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  • Milena Velloso

Noites Gasosas


Essa foto é uma das minhas favoritas, apesar dos perrenques que passamos quando morávamos numa barraca, tenho saudade da simplicidade de uma casa que só tinha 3 colchões infláveis , um tapete e uma vela, o resto eram as muitas histórias que contávamos sob essa atmosfera de simplicidade tão especial. A barraca em breve sairá daqui do lado, iremos iniciar as obras do primeiro quarto, por enquanto guarda os restos da casa que ainda não conseguimos fazer caber em um cômodo com mezanino, onde dormimos todos juntos. Deixará saudades, foi um período importante para a nossa adaptação aqui, não acredito que teríamos conseguido persisitir até hoje caso tivéssemos alugado uma casa com os confortos da vida deixada pra trás, as vezes é preciso uma ruptura radical, pelo menos para mim, com o caminho que havia sendo trilhado para se conseguir ficar em trilhas menos percorridas.

As noites na barraca eram longas mas geralmente os dias eram tão cheios de trabalho braçal pesado que as 6 da tarde estávamos já de pijama nos preparando para dormir, quando chovia comíamos algo rapidinho , tipo chocolate quente. O leite, alimento que nunca havia entrado na nossa dieta, passou a ser o item número um da lista: rápido, fácil e QUENTE ! Receio muito por aqueles que consomem esse alimento diariamente, meu Deus.. o horror que eram as consequências gasosas desse terrível alimento é indescritível, particularmente quando se está confinado numa barraca de quinze metros quadrados.

As noites quentes e menos chuvosas eram particularmente especiais: jantares mais longos, conversas ao redor de fogueiras e histórias de terror contadas para as meninas sob céus estrelados ou na escuridão do terreno em noites sem lua.

Sempre gostei de contar histórias e era confortante depois de uma dia cheio de labuta simplesmente deitar-se pra dormir. A última frase do dia era: “Uma estrelinha no céu se apagou e a nossa história acabou” embora soubéssemos que a nossa história estava somente começando.


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