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  • Milena Velloso

Há mar e mar, há ir e voltar


​​Nos bons contos infantis quando se deseja enaltecer um momento especial da estória, geralmente na virada, onde toda e qualquer desventura torna-se encontro e alegria, aparece essa frase simples e pontual: “eles estavam realmente felizes”. Imagino que esse REAlMENTE esteja no texto para indicar uma alegria verdadeira, que nasce de uma compreensão mais profunda da realidade, como se a vida não fosse mais nada além daquele minuto, segundo presente que ali se desenlaça. A vida está se desenrolando no pequeno espaço ocupado pelos pés e em nenhum outro lugar. Aqui e agora é a indicação nas estórias infantis e acredito também que na nossa própria vida, que estamos comprometidos com os acordos e pactos por nós assumidos na nossa história, que estamos realmente felizes.

Assim que ficamos 6 dias em Salvador. Eu e as meninas e muito trabalho. Revemos amigos também, curtimos muito e a vida de repente se tornou familiar novamente: horários, trabalhos, administrar o tempo, meu e de outros, e muito corre-corre, ficar pra lá e pra cá o tempo todo. Tudo tão parecido com era antes, mas diferente era o tempo que sabíamos que isso iria durar: uns poucos dias apenas e já já estaríamos de volta pra casa. Casa... esse lugar gostoso que nos refaz dos trancos, que nos concede algum fôlego e descanso necessários para as nossas caminhadas e assim percebo que Salvador aos poucos vai saindo de mim, deixando de ser a minha única morada, por onde passei boa parte de minha vida. Muito mais aos pouquinhos ainda percebo que essas outras paisagens, jeitos, pessoas, montanhas e rios vão se tornando de mansinho, sem pedir licença , a nossa casa também. As pessoas de lá, tão queridas, os afetos, os desafetos, as lembranças tudo o mais que traz em si um conforto do lugar onde sempre me reconheci, com os todos os seus símbolos e gestuais, agora me fez sentir um pouco estrangeira e alheia. Percorria suas ruas como quem desconfia de seu acolhimento, quase como uma amante que reconhece o pouco tempo que lhe cabe com o seu amor.

Os dias passaram assim corridos e só pudemos ir na praia no último dia por algumas horas apenas. Ananda alegava o tempo todo enquanto estávamos aqui no Vale da saudade que estava de ir ao “shoppei”, escrevi do jeitinho lindo e só dela de falar. Enfim, chegamos e fomos ao tal inferninho, véspera de feriado, crise, pensei com os meus botões: vai estar muito vazio, vou fazer compras como se estivesse no Pati, somente eu e Deus ou melhor o diabo. Nossa, loucura total, filas em ais filas, mal conseguíamos andar direito o que nos leva a pensar melhor sobre essa danadinha dessa crise, parece mais resfriado mal curado: fica indo e voltando e deve estar pior lá pelos lados do país da rede globo, nas terras ao sul de Minas e Rio de janeiro. A pior parte desse capítulo do “Shoppei” foi que compramos produtos com numerações erradas e tivemos que voltar lá dois dias depois pra trocar ...E de novo: filas, confusão, pelo menos dessa vez as meninas mataram a saudade do cinema, que aqui faz uma falta danada.

Na terça acordei e falei para elas: hoje nada nos tira da praia, rezei para que não chovesse pois eu estava com tanta vontade de ver e viver o mar que seria capaz de adiar a minha volta só por ter esse breve encontro, para mim, a mais saudosa e perturbadora falta: Ter horizonte. A visão daquela linha onde supostamente tudo acaba. Pois que quando chegamos e demos a primeira caída, foi uma outra experiência de felicidade, não aquela euforia exagerada, meio abafada da experiência das compras e comilanças do shopping. O encontro com o nosso velho amigo mar e seus cheiros: o acarajé, o sargaço, o queijo coalho, as pocinhas mornas provavelmente cheias de xixis , tudo foi gostoso e único . Marina estava totalmente em casa, serelepe e sorridente, parecia que nunca tinha estado antes ali, e Ananda também, tiramos muitas fotos. Fui abraçada como se estivesse dado o maior dos presentes, algo de muito valor que só memso as crianças para reconhecer. De quebra encontramos com Carlos, nosso camarada de muitas praias e vendedor do melhor picolé de morango da fruta do trecho Ipitanga-Buraco da velha, tão gostoso quanto o Capelinha e muito mais barato.

Depois de quase uma semana, chegamos em casa. Reencontramos nossa terrinha, bichos, jardim, montanhas, a vida foi diminuindo o ritmo, os barulhos foram mudando a paisagem mais ainda. A única pressa por aqui agora é gramar o quintal para enfrentar com o mínimo de lama possível as chuvas previstas para novembro e típicas por aqui com tempestades de raios terríveis. Mar que vai, mar que vem, Salvador que vai, Vale que vem e assim seguimos com nossa caminhada e posso dizer que apesar das crises, das nossas e da Rede Globo estamos todos realmente felizes.


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